Digital, Phygital e Depois?
Mónica Neto
Diretora Portugal Fashion
É preciso recuar a março 2020 para falar do que é hoje o desafio de organizar o Portugal Fashion (nomeadamente as duas edições nacionais, que acontecem no Porto, em março e outubro). As notícias corriam por todo o mundo e, por cá, registavam-se os primeiros casos vindos de Itália. Após uma primeira diretiva para que o evento acontecesse à porta fechada, o impensável aconteceu. Ao início do segundo dia das previsíveis três jornadas de evento, a DGS determinou o cancelamento da edição.
Era o começo da pandemia de COVID-19 em Portugal. O Portugal Fashion é um evento profissional, insere-se na lógica do calendário dos circuitos internacionais. Por isso, sabíamos que adiar não seria opção. Realizar com as condições de segurança possíveis, dentro da informação sabida à data, que era escassa, e perante um conjunto de imponderáveis que eram já mundiais, era o desafio. O cancelamento foi uma inevitabilidade. Entre a gestão institucional com a DGS, os comunicados internos, o comunicado à imprensa, as implicações financeiras…. Foram momentos duros, mas de convicção forte e tranquilidade. Uma boa máquina é eficiente a fazer acontecer e também a parar, quando assim tem de ser.
Depois do que aconteceu no terceiro mês de 2020 foi preciso pensar em reinvenção. De que forma conseguiríamos tornar a edição de outubro viável? Espaços ao ar livre, uma edição híbrida entre desfiles e apresentações físicas e outros formatos digitais. Envolveu vários neurónios, alguma coragem, e uma versatilidade e resiliência ímpar por parte dos designers que fazem parte da plataforma. O Portugal Fashion aconteceu e foi uma das melhores edições, até então.
Superamos todas as expectativas com a nossa emissão Portugal Fashion Digital – 25 Hours Live. A Raquel Strada e o Luís Borges conduziram um projeto de streaming inédito na história do Portugal Fashion e conseguimos fazer de uma limitação imposta à partida – a redução de público devido à pandemia – uma oportunidade incrível de foco no público profissional e nas dinâmicas profissionais do Portugal Fashion. Profissionais esses que além de terem estado connosco nos momentos de apresentação de moda, passaram pelo estúdio que montamos na Alfândega do Porto, em dois formatos de conversa e reflexão sobre o ecossistema moda nacional. Juntamos a tudo isto uma aposta ganha nos momentos híbridos de apresentação de vídeos, que no nosso espaço tiveram sempre um momento físico associado, e cenários de desfile completamente surpreendentes.
Estávamos confiantes e 2021 era esperança de progressão nesta nova lógica de operação em que o Plano de Contingência virava ponto de partida. Mas o novo ano começou da pior forma. Hospitais em colapso, novo confinamento, eventos proibidos. Por onde começar se nem conteúdos para uma campanha de comunicação conseguíamos criar? Ora, começamos precisamente por aí, desenhando uma das mais criativas campanhas de comunicação e marketing da história do Portugal Fashion. Se não podíamos criar conteúdos reais, teríamos de conseguir criar conteúdos digitais. E se para chamar tudo e todas à atenção para uma edição que se adivinhava 100% digital era necessário ousar como nunca, ousamos mesmo o inesperado. Ultrapassando guidelines de comunicação no setor da moda, expectativas estéticas e de universo criativo, convidamos o artista Hugo van der Ding a desenhar o cartaz da chamada “The Sofa Edition”.
Outubro de 2021 já permitiu um cenário híbrido, embora restrito. E março de 2022 possibilitou finalmente uma evolução nesse cenário para um contexto de quase não restrição, além dos normais cuidados e regras que se aplicam na nossa vida quotidiana. Mas nós não somos os mesmos. O mundo não é o mesmo, o ecossistema de moda internacional está transformado e o Portugal Fashion surge como um projeto verdadeiramente imunizado e com um adn de renovação e inovação constante. Somos agora mais digitais, pensamos de forma diferente todas as componentes do nosso evento, comunicamos de forma diferenciada com vários targets, temos uma perspetiva de flexibilidade organizativa completamente nova e, sobretudo, acreditamos que nunca mais seremos o mesmo projeto, nem o mesmo evento. Houve mudança, houve transformação, mas tudo foi canalizado no sentido da evolução.
Ainda assim, importa sublinhar que a capacidade de adaptação ao novo mundo pós-pandemia exige renovação de competências e esse é um processo que implica que recursos internos e produtores tenham necessariamente de fazer uma análise atenta e permanente às novas tendências, e sobretudo obter formação especializada e focada nos desafios atuais. A ANJE promove a 5ª edição do Master Executivo em Organização e Gestão de Eventos, também ele desta vez em online sendo esta uma formação muito centrada na capacidade de resposta de marcas e organizações ao sucesso dos eventos aos dias de hoje. É um curso que aconselho a todos os players, pois traz uma abordagem fresca, a cargo de profissionais competentes e experientes, com técnicas e ferramentas para a realização de eventos de sucesso, que comuniquem com impacto as mensagens e objetivos pretendidos.